A
Coca-Cola abandonou seu lado família e preferiu se associar ao funk de Pabllo
Vittar, Ludmilla e Valesca Popozuda. O que ganha com isso?
A Coca-Cola é a nova aderente e proponente do marketing
de lacração, depois de tantos exemplos de empresas que aderiram à idéia do
progressismo politicamente correto: lançou várias latinhas de fim de ano com
imagens de celebridades lacradoras, como o travesti Pabllo Vittar e as
funkeiras Ludmila, Anitta, Valesca Popozuda e Simone e Simaria.
Não há nada comercialmente errado em utilizar as
celebridades modistas do momento para uma campanha de marketing. Marqueteiros
fazem isso hoje e sempre.
Mas a escolha só seria por “celebridades” se os
lacrantes em questão estivessem por mera coincidência num bolo entre outros
não-lacrantes. Apesar da presença de um Thiaguinho ou de um Luan Santana, a
predominância em latinhas de Coca-Cola é pela lacração.
Tal posicionamento evidencia-se pelo uso de frases
agressivas e um tanto quanto indecorosas para acompanhar o rosto dos escalados,
como Anitta aparecer sobre a declaração “Meiga e abusada”, perfeita para ser
entregue para a sobrinha de 4 anos quando pede uma Coca, ou Valesca Popozuda
com a insígnia “Eu sou a diva que você quer copiar”, esta seriamente pensada
para a vovó Gertrudes, 83 anos, que reza o terço no dia 24 e vai tomar uma
Coquinha gelada tão logo terminar a Missa do Galo.
A Coca-Cola, que já foi uma marca família, com
mensagens de Natal com toda a família chegando (“e se os vizinhos
aparecerem?!”), preferiu trocar o marketing família pelo marketing da lacração.
Mas Natal e família são coisas ultrapassadas nesse
mundinho de 2017. O negócio agora é funk e agredir a mamãe, a vovó, a ceia de
Natal com aquele Menino Jesus patriarcal obscurantista reacionário Bolsonaro
2018.
As empresas, apesar de não lucrarem absolutamente
nada com isso, sempre caem no canto da sereia de algum lacrador com o cabelo
tingido de roxo do departamento de marketing dizendo que a onda agora é
se dizer abusada, danada e diva para a família.
O problema óbvio é factual: alguém do público de
Anitta, Pabllo Vittar e outras bobagens de adolescentes alienados e modistas
tem capacidade de fazer um sacrifício e trocar o barato Dollynho por uma toda-poderosa
Coca-Cola? Esse povo depende justamente do papai opressor que vai falar de
Bolsonaro, pau em bandido e comunista na ceia de Natal (que só vai começar de
um Pai Nosso, uma Ave Maria e um Glória ao Pai). Sem ele, não tem dinheiro nem
pra comprar bagulho.
O problema menos óbvio é sociológico: a Coca-Cola é
grande demais para seguir ondas. Ela tem de ditar modas. O que
é Pabllo Vittar, ser que ninguém lembrará daqui a uma década, perto da
Coca-Cola? É como tentar lembrar dos sucessos dos anos 90: Baba Cósmica,
t.A.t.u., Chumbawamba, Aqua (aquela da Barbie Girl). E se a Coca-Cola
vivesse correndo atrás dessas modinhas?
Uma lenda urbana bem comum no Brasil diz que o
Papai Noel originalmente era verde, e só é pintado de vermelho graças à
Coca-Cola. Será essa empresa que terá como grande criatividade citar Anitta e
Valesca Popozuda (aquela dos hits “Agora virei puta” e “My
Pussy é o poder”) gritando que são divas abusadas?
Os ídolos que queremos ter na sociedade podem ser o
Papai Noel e o urso polar da Coca-Cola, famosíssimo num país tropicalíssimo
como o Brasil, por aspirarem a algo superior às nossas chateações comezinhas.
Agora, é o contrário: grandes marcas consolidadas, símbolos da família, têm
como grande triunfo em plena época mais importante do ano (inclusive
comercialmente) estampar um traveco e a autora de “Um Otário Pra Bancar” e “Tô
Com o C* Pegando Fogo”. E pronto. É ao funk que a Coca-Cola quer se associar
como valor?
Será que empresas precisam mesmo de tanta coragem
assim para simplesmente colocarem mamãe, papai e filhinhos (ainda existem por
aí! não nascem de chocadeiras ainda!) tomando uma Coquinha e sorrindo? Apesar
de toda a gritaria, o total de realização de vida de todos os millenials
somados soma zero.
Não dá nem pra pagar uma Coca-Cola latinha.
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Autor: Flavio Morgenstern. É escritor, analista político, palestrante
e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em
construções de narrativas
Fonte: http://sensoincomum.org
Leia a matéria completa em : http://sensoincomum.org/2017/12/06/coca-cola-marketing-pabllo-vittar
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