O tema ganhou um espaço enorme nas mídias sociais
depois da prova do ENEM onde foi feita uma citação da feminista Simone de
Beauvoir, “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico,
psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da
sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário
entre o macho e o castrado que qualificam o feminino (O segundo sexo. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1980). Em outras palavras, uma mulher é definida, não
pelo sexo biológico com que nasce, mas pela construção social da civilização.
De acordo com os defensores da ideologia de gênero,
existe uma diferença entre sexo e gênero. Sexo aponta para as determinações
naturais e diferenças biológicas entre homem e mulher. Entende-se por gênero, o
papel que ambos, homem e mulher, têm e exercem na sociedade.
Na literatura secular acerca da sexualidade humana,
gênero tem gradualmente substituído sexo. Ao invés de falar de diferenças de
sexo, as pessoas agora falam em diferenças de gênero. Mas, então, qual seria a
origem do termo gênero e como chegou a ser utilizado como substituto para sexo?
Aparentemente, foi o psicólogo e sexista John Money o pioneiro no uso de gênero
com sentido de sexo. Em suas obras ele postula que “o gênero é certo tipo
particular de conduta do homem e mulher”. Depois dele, o psicanalista Robert
Stoler escreveu em “Sexo e Gênero”(1968) que sexo é biológico, gênero é o que
cada sociedade a ele atribui.
Decorre a seguinte questão: se o gênero de uma
pessoa não é determinado biologicamente, como o é o sexo, quem, então, o
determina? A resposta é: gênero é algo atribuído, não natural: é socialmente
determinado. Masculino e feminino são papéis definidos por cada sociedade. Em
outras palavras, uma pessoa pode nascer homem – isto é sexo – mas em termos de
gênero, ele pode ser feminino, tanto por escolha como por determinação social.
Pode-se também dizer que a ideologia de gênero tem
seu ponto de partida na ideologia marxista, na qual é impossível haver qualquer
conciliação entre classes. Como o marxismo, a ideologia de gênero reivindica a
abolição de todas as diferenças de sexo e gênero, tanto na sociedade como na
igreja. Para fazê-lo, é preciso desconstruir a influência da cosmovisão patriarcal
perpetuada na cultura ocidental pela igreja cristã e sua Bíblia, subverter a
dominação masculina presente e real na sociedade e igreja por meio da imposição
de uma cosmovisão feminina, ou, no mínimo, a abolição de todas as distinções
claras entre sexos e gêneros.
Os apologistas da ideologia do gênero desenvolveram
sistemas e métodos próprios para alcançar sua meta. Eles tem se mantido
bastante ativos, influenciando e mudando as políticas governamentais, a
educação pública (vide prova do ENEM), a mídia e a opinião pública, a fim de
abolir tudo o que eles entendem que perpetua a dominação masculina e as
distinções sexuais, e lhes impor a agenda homoafetiva.
As questões de gênero têm causado um impacto global.
Elas alcançaram as igrejas ao redor do mundo, não somente no contexto
ocidental. Como cristãos, podemos perceber os diversos perigos sociais e
consequências do crescimento contínuo da ideologia de gênero e sua influência
social e cultural em todos os continentes. Primeiro: todas as diferenças
sexuais naturais, criadas por Deus de acordo com a Bíblia, são abolidas. Você
pode se reinventar. Segundo, não é difícil de perceber que a instituição
familiar e valores são desafiados. Da mesma forma, não existe mais certo e
errado nestes assuntos. A ideologia do gênero representa, no fim das contas, um
ataque severo à cosmovisão bíblica pela cosmovisão pagã.
Não há dúvida sobre o fato de que, em muitos países,
as mulheres têm sido abusadas, oprimidas, humilhadas e escravizadas. Mesmo nas
culturas mais civilizadas, as mulheres continuam a ser abusadas e espancadas
por seus maridos. A ideologia de gênero, contudo, não se contenta apenas em
fazer justiça aos direitos das mulheres; ela deseja a subversão e reversão dos
papéis tradicionais e a abolição de todas as distinções entre homem e mulher,
até mesmo a sua identidade biológica.
Qual deve ser a resposta bíblica a ser oferecida aos
desafios da ideologia do gênero? Para responder, nós deveríamos compreender,
antes de qualquer coisa, o que realmente está em jogo aqui. Eu creio que as
questões do gênero não são de natureza secundária; elas são temas que lidam com
pontos fundamentais da fé cristã, tais como a criação, família e igreja.
Também precisamos compreender a relação entre a
cultura e as Escrituras. As Escrituras, e não a cultura, devem ser o
referencial nas igrejas evangélicas no tratamento das questões de gênero.
Embora existam elementos culturais no texto bíblico, a compreensão cristã
histórica é que a Escritura se encontra sempre acima da cultura e representa a
verdade universal. Isto se também se aplica aos contextos do sexo e gênero.
Assim sendo, uma resposta bíblica às questões de
gênero começa com o fato de que Deus criou apenas dois sexos e gêneros. Nós
podemos falar de sexo como algo determinado biologicamente da mesma forma que
também dizemos que o gênero é a decorrência natural desta determinação. Aqueles
que, por natureza, são homens, são machos (masculinos) conforme contempla o seu
gênero. O mesmo se aplica às mulheres. Também podemos afirmar que o gênero,
compreendido como a autoconsciência sexual de uma pessoa e o comportamento
social dele ou dela, é bíblica, e não socialmente determinado, embora as
culturas possam diferir acerca dos papeis tradicionais do homem e da mulher.
Como forma estratégica de tratar com essas questões,
as igrejas deveriam procurar e preparar liderança masculina sólida e bíblica,
fortalecer o ministério feminino, apoiar grupos para que homens e mulheres
cristãos aprendam sobre a masculinidade e a feminilidade bíblicas, e criar e
sustentar grupos para aqueles que são tentados ou têm caído na
homossexualidade. Além disso, os púlpitos das igrejas cristãs eventualmente
deveriam ministrar ensino bíblico sólido e compassivo abordando o tema. Também
deveriam promover eventos regulares, com palestrantes convidados para falar
sobre família e questões de gênero.
Tenho consciência de que é normal e compreensível
haver certa resistência por parte da liderança da igreja em tocar no assunto. O
resultado da omissão, contudo, é o crescimento do engano e do erro. Ensinos
equivocados tendem a ocupar cada pequena brecha que possa existir na vida da
igreja local. Se os membros da igreja não aprendem de seus pastores e líderes,
eles aprenderão dos defensores da ideologia do gênero e ativistas. Um plano
claro e definido para preparar os membros da igreja nestas áreas é uma
necessidade. Eles precisam ser ensinados como enfrentar estas questões, tanto
os jovens como os adultos. E o único modo de isso ocorrer é pelo ensino bíblico
consistente.
Por Augustus Nicodemus Lopes
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia
Extraído do Facebook do autor
Nenhum comentário:
Postar um comentário