Orar a Deus deveria ser uma coisa simples. Todavia, poucos assuntos
precisam de mais esclarecimentos do que a oração. Há muitos conceitos errados
sobre a oração por causa do misticismo e da superstição que acometem o ser
humano (não somente os brasileiros), por falta de mais conhecimento bíblico
sobre o assunto e por causa de ideias equivocadas que as pessoas têm sobre
Deus. Seguem alguns pontos sobre oração que penso que são fundamentais e também
relevantes para nós hoje. Estou pressupondo o básico: quem vai orar acredita
que Deus existe e que Ele recompensa os que o buscam (Hb 11.1-2 e 6).
1 – Orar é basicamente apresentar a Deus, mediante Jesus Cristo e com a
ajuda do Espírito Santo, nossos desejos, necessidades, confissão de pecados,
intercessões, agradecimentos. A razão é que somente o Deus Triúno conhece
nossos corações, é capaz de atender os pedidos e o único que pode perdoar
pecados. Portanto, não há qualquer fundamento bíblico para dirigirmos nossas
orações a quaisquer criaturas, vivas ou mortas, mas somente ao Deus Triúno (2
Sm 22:32; 1Rs 8:39; Is 42:8; Sl 65:1-4;145:16,19; Mq 7:18-20; Mt 4:10; Lc 4:8;
Jo 14:1; At 1:24; Rm 8:26-27; Jo 14:14 e dezenas de outros textos que falam de
nos dirigirmos a Deus).
2 – O Novo Testamento nos ensina que devemos orar a Deus em nome de
Jesus Cristo. A razão é que o pecado nos afastou de Deus e não podemos nos
aproximar dele por nossos próprios méritos. Jesus Cristo é o único, na terra e
no céu, que foi constituído pelo próprio Deus como mediador entre ele e os
homens. Não há qualquer base bíblica para se chegar a Deus em oração pela
mediação de qualquer outro nome. A Bíblia nos ensina que “não há outro nome
dado aos homens” (At 4:12) e que “há somente um mediador entre Deus e os
homens, Jesus Cristo” (1Tim 2:5). (Ver ainda Jo 14:6; Ef 3:12; Cl 3:17;Hb
7:25-27;13:15).
3 – Orar em nome de Jesus é nos achegarmos a Deus confiados nos méritos
de Jesus Cristo e no perdão de pecados que ele nos conseguiu por meio de sua
morte na cruz. É pedir a Deus com base nos merecimentos de Cristo e não nos
nossos. É renunciar a toda justiça própria e chegarmos esvaziados de nós mesmos
diante de Deus, nada tendo para oferecer em nosso favor a não ser a obra
daquele que morreu e ressuscitou por nós. Onde não houver esta disposição e
atitude, invocar o nome de Jesus é vão. O nome de Jesus não é um talismã ou uma
palavra mágica, ou a senha para desbloquear as bênçãos de Deus. Não funciona
nos lábios daqueles que ainda confiam em si mesmos e na sua própria justiça,
ainda que repitam este Nome dezenas de vezes em oração (Mt 6:7-8; 7:21; Lc
6:46-49; Jo 14:13,14; At 19:13-16; 1Jo 5:13-15; Hb 4:14-16).
4 – Embora possamos pedir a Deus qualquer coisa que desejarmos, todavia,
só deveríamos orar por aquelas que trazem a maior glória de Deus, que promovem
o crescimento do Reino de Deus neste mundo e que são para nosso bem, sustento,
proteção, alegria, bem como de nosso próximo. Foi isto que Jesus nos ensinou a
pedir na oração do “Pai Nosso” (Mt 6:9-13), além de outras coisas afins (Lc
9:11-13). Assim, é tentar a Deus orarmos por coisas ilícitas e pedir coisas que
Ele declara, na Bíblia, serem contra a sua vontade (Tg 4:1-3; Mt 20:20-28).
5 – Em nossas orações, deveríamos nos lembrar de orar por outras
pessoas. A Bíblia nos ensina a pedir a Deus pelos irmãos em Cristo, pela Igreja
de Cristo em todo o mundo, pelos governantes, por nossos familiares e pessoas
de todas as classes, inclusive pelos nossos inimigos. Todavia, não há qualquer
base bíblica para orarmos pelos que já morreram ou oferecer petições em favor
dos mortos (Gn 32:11; 2Sm 7:29; Sl 28:9; Mt 5:44; Jo 17:9 e 20; Ef 6:18; 1Tm
2:1-2; 2Ts 1:11; 3:1; Cl 4:3).
6 – Deus nos encoraja a trazer diante dele as nossas petições. Todavia,
ainda que a eficácia de nossas orações dependa exclusivamente dos méritos de
Cristo, Deus nos ensina em sua Palavra que há determinadas atitudes nos que
oram que fazem com que ele não atenda estas orações, como brigas entre irmãos,
mundanismo e egoísmo, tratar mal a esposa, pecados ocultos, incredulidade e
dúvidas, falta de perdão a quem nos ofende, hipocrisia, vãs repetições, entre
outras coisas (Mt 5:23-24; Tg 4:1-3; 1Pe 3:7; Sl 66:18; Pv 28:13; Is 59:1-2; Tg
1:6-7; Mt 6:14-15; Mt 6:5; Mt 6:7-8). Por outro lado, se nossas orações são respondidas,
isto não se deve à nossa santidade, mas à graça de Deus mediante Jesus Cristo,
que nos habilita a viver de forma agradável a ele (1Jo 3:21-22), e ao fato de
que as orações, por esta mesma graça, foram feitas de acordo com a vontade de
Deus (1Jo 5:14).
7 – Deus requer fé da parte dos que oram (Hb 3:12; 11:6; Jer 29:12-14;
Tg 1:5-8; 5:15). Esta fé é uma simples confiança de que Deus existe, que ele
nos aceitou plenamente em Cristo e que é poderoso para nos dar aquilo que
pedimos, ou então, nos dar muito mais do que imaginamos (Hb 4:14-16). Orar com
fé é trazer diante de Deus nossas necessidades e descansar nele, confiantes que
ele responderá de acordo com o que for melhor para nós (1Jo 5:14-15). Orar com
fé não significa determinar a Deus que cumpra nossos pedidos, ou decretar, como
se a oração tivesse um poder próprio, que estes pedidos aconteçam. Orações não
geram realidades espirituais e nem engravidam a história. É Deus quem ouve as
orações e é Ele quem decide se vai respondê-las ou não, e isto de acordo com
sua vontade e propósito de sempre nos fazer bem.
Se houvesse mais oração verdadeira a Deus por parte dos que professam
conhecê-lo mediante Jesus Cristo, quem sabe veríamos aquele avivamento e
reforma espirituais que tanto desejamos para nossa pátria?
“Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me
buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus,
perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra” (2Cron 7:14).
Autor: Dr. Augustus
Nicodemus Lopes é pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia,
vice-presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil e
presidente da Junta de Educação Teológica da IPB.
Fonte: http://tempora-mores.blogspot.com.br
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