terça-feira, 13 de junho de 2017

UMA NAÇÃO RENDIDA AO CRIME



“As suas mãos estão sobre o mal e o fazem diligentemente; o príncipe exige condenação, o juiz aceita suborno, o grande fala dos maus desejos de sua alma, e, assim, todos eles juntamente urdem a trama” (Mq 7.3).
 ​O texto em epígrafe não foi extraído da Folha de São Paulo nem é uma citação do último Telejornal. É uma menção feita pelo profeta Miquéias há mais de dois mil e setecentos anos. Israel era uma nação rendida ao crime. Por não ter se arrependido, sofreu um amargo cativeiro, sob a látego dos caldeus. O Brasil segue à risca esse mesmo roteiro trágico. Vejamos:
​Em primeiro lugar, a maldade é praticada com diligência. “As suas mãos estão sobre o mal e o fazem diligentemente…”. Não se trata apenas de tolerância ao erro, mas de uma inversão total de valores. Não se trata apenas de uma parcela da sociedade estar corrompida, mas esse levedo do mal, fermentou toda a sociedade, e, assim, todos estendem sua mão para fazer o mal contra o seu próximo, e isso, com diligência. O mal não é apenas praticado, mas praticado com planejamento rigoroso, com dedicação exclusiva.
​Em segundo lugar, os governantes tornam-se feitores do mal e não do bem. “… o príncipe exige condenação…”. Os governantes são ministros de Deus para a prática do bem e a proibição do mal. Eles devem servir ao povo em vez de se servirem do povo. São defensores do povo e não opressores dele. Porém, aqui, o príncipe está exigindo condenação. Está usando seu mandato para oprimir o povo e não para aliviar o fardo do povo. Quando os governantes, com desfaçatez, pervertem seu caráter, maculam sua honra, rendem-se ao crime e oprimem o povo, tornam-se um pesadelo para a nação.
​Em terceiro lugar, os tribunais tornam-se agência de injustiça. “… o juiz aceita suborno…”. Os juízes deixam de julgar conforme a lei para promoverem a injustiça. Julgam com parcialidade, para favorecer aos poderosos e esmagar os fracos. Os juízes escondem a verdade, amordaçam a justiça, aviltam o direito, escarnecem da lei e dão sentenças por suborno. Por causa do amor ao dinheiro, as cortes deixam de ser o refúgio dos justos para ser o esconderijo dos criminosos.
​Em quarto lugar, os poderosos encontram caminho aberto para colocarem em prática seus desejos perversos. “… o grande fala dos maus desejos da sua alma…”. Quando os poderes constituídos se capitulam ao crime; quando o Estado é domesticado para favorecer os fortes e oprimir os fracos, então, os poderosos perdem o pudor e não escondem mais seus projetos iníquos. Sabem que praticarão delitos e escaparão do braço da lei. Sabem que seus crimes lhes trarão robustas recompensas. Sabem que, ainda que suas transgressões venham à baila, eles não serão exemplarmente punidos. O palácio, o parlamento e a corte, assim, deixam de ser a fortaleza da esperança do povo para tornarem-se na sua maior ameaça. As riquezas que deveriam atender as necessidades do povo são desviadas, criminosamente, para atender aos interesses dos ricos e endinheirados. Enquanto os poderosos vivem refestelando-se em seu luxo extremo, o povo geme abandonado ao descaso extremo.
​Em quinto lugar, os defensores do povo se unem para oprimir ainda mais o povo. “… e, assim, todos eles juntamente urdem a trama”. A trama não é urdida por aqueles que vivem ao arrepio da lei, nos subúrbios do crime, mas por homens togados, investidos de poder, mas sem nenhum coração. O crime não vem apenas dos porões escuros da marginalidade, mas sobretudo do palácio e do parlamento. O povo aturdido não tem a quem recorrer, pois há uma orquestração bem alinhada entre os poderosos para, sob o manto da lei, transgredirem a lei. Aqueles que sobem à tribuna ou discursam nos tribunais, estadeando sua lealdade à Constituição, pisam-na. Aqueles que são escolhidos pelo povo, para servirem ao povo, exploram-no. Aqueles que deveriam administrar os recursos públicos para o bem do povo, desviam-nos para atender a ganância dos poderosos. Aqueles que deveriam ser exemplo de integridade para o povo, como ratazanas esfaimadas, abocanham as riquezas da nação, deixando o povo à míngua. Cercados por essa horda de criminosos, só nos resta clamar Àquele que tudo vê, tudo sonda e a todos conhece. Nesse tempo de desesperança, é tempo de buscarmos em Deus refúgio, unir nossa voz à voz do profeta Miquéias e clamar: “Eu, porém, olharei para o Senhor e esperarei no Deus da minha salvação; o meu Deus me ouvirá” (Mq 7.5).

Autor: Hernandes Dias Lopes -  Pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil. Conferencista. Autor de diversos livros. Apresentador do Programa Verdade e Vida

Um Pouco de Síndrome de Narciso

Narcisista é a palavra adequada para aquelas pessoas que se amam incondicionalmente, a ponto de adorar a própria imagem, desprezando definitivamente o mundo ao seu redor. Nessa condição, a pessoa jaz, admirada com as virtudes e qualidades que pensa possuir, então morre de inanição, debruçada sobre o próprio ego.

A Bíblia elenca o que sobrevirá aos amantes de si mesmo, os homens serão egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes, blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, ímpios,sem amor pela família, irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio próprio, cruéis, inimigos do bem, traidores, precipitados, soberbos, mais amantes dos prazeres do que amigos de Deus [...]. 2 Timóteo 3:2-4

Estamos cultivando excesso de autoestima, cada dia mais pensamos que somos a primeira e única pessoa mais importante do mundo, “amar ao próximo como a nós mesmos” tem deixado de ser um ensinamento do cerne do Cristianismo e tem passado a ser uma máxima sem fundamento, isso na mente daqueles que vivem para si, sem se preocupar com as necessidades dos seus irmãos.
Desde as concepções doutrinárias, até a forma como algumas pessoas se colocam diante da vida, seu discurso, suas máximas pessoais, denunciam que o ego é inflado, que padece do que podemos chamar de síndrome de Narciso. Todas as intenções são perniciosas, com o interesse sempre motivado pela vanglória (glória vã), vaidade e desejo de ter projeção sobre os outros. O problema é que, quem assim procede poderá terminar na solidão porque com certeza ferirá as pessoas ao seu redor.

Podemos perceber esse comportamento em vários indivíduos, certamente numa simples conversa já conseguimos observar vários indícios: tem a maior inteligência, os filhos mais estudiosos, o melhor trabalho, o carro mais bonito, tudo o que faz é motivo de destaque sobre os outros “pobres mortais”.

Uma pessoa ensimesmada não consegue admirar a beleza da natureza, uma bela canção, não consegue glorificar o Criador, pois, se considera suficiente em si mesma. Por isso que temos tantos conflitos, que poucos conseguem concordar, valorizar o trabalho alheio, “considerar os outros superiores a si” , sim, eis a maneira correta de proceder com o próximo.

Infelizmente, por causa desse excesso de amor a si mesmo as pessoas magoam, pisam nos sentimentos das outras, quando erram, ao invés de pedir desculpas, encontram uma forma de fazer com que o outro se sinta culpado. Nisso tudo, falta amor, perdão, humildade e submissão à Deus; além de um exame das próprias atitudes, quem sabe o diagnóstico está bem mais claro do que se imagina.

Autora: Diana Inácio de Lima - Poetisa, graduada em Filosofia pela UEPB, mestranda em Filosofia pela UFPB, natural da cidade de Ipaumirim - CE

Fonte: http://www.cosmovisaocrista.com/2017/05/um-pouco-de-sindrome-de-narciso-diana.html

EM MEIO ÀS LAMENTAÇÕES


 “Lembra-te, SENHOR, do que tem acontecido conosco; olha e vê a nossa desgraça.” Lamentações 5.1 (NVI)
As antigas tradições judaicas atribuem a Jeremias a autoria do livro de Lamentações na Bíblia. Este não é o único livro da Bíblia que contem reclamações e lamentos, pois, outros livros da Bíblia, transmitem para nós que o lamento fazia parte da vida cotidiana daquele povo. A verdade é que muitos Salmos são poemas de lamento e todos os livros proféticos também contem partes de lamento. No entanto é o único que consiste somente em lamentações.
Era uma época muito difícil para a nação de Israel, e assim como o Brasil, não se percebia uma luz no fim do túnel. Ao concluir seu livro de lamento, Jeremias se revela muito parecido com um cristão normal. Ele nos mostra que tudo ao seu redor está contaminado. Ele começa a descrever o caos. Ele perdeu a sua herança (V.2), o pai morreu e a mãe ficou viúva (v.3), os itens mais básicos para sua sobrevivência estão escassos, afinal, ele diz no versículo 4: “temos que comprar água que bebemos; nossa lenha, só conseguimos pagando”. Jeremias fala de perseguição (v.5) a necessidade de olhar para um inimigo e esperar em sua misericórdia (v.6). As referencias do ensino e cuidado da família não existem (v.7). A lógica social foi destruída (v.8) e até o alimento é difícil (v.9). A saúde já não está vigorosa (v.10) e a vida em família está destruída (v.10), com idosos desrespeitados, jovens e meninos estão cansados (12,13). Jeremias está muito triste e seu lamento é algo tocante, pois, até os lideres estão calados e distantes (v.14).
O resultado de um caos enorme como o que Jeremias acabou de descrever é que: “dos nossos corações fugiu a alegria;” (v.15), o coração está desfalecido (v.17). A solução deste coração tão triste em meio às lamentações é dialogar com Deus através da oração. Jeremias aponta para todos nós o caminho. A primeira coisa que ele faz é declarar sua fé na pessoa de Deus. Jeremias nos ensina a olhar para o caráter de Deus em meio às crises. Ele diz: “Tu, SENHOR, reinas para sempre; teu trono permanece de geração em geração” (v.19). Logo depois ele dirige suas perguntas para Deus: por que motivo? Qual a razão? Por quanto tempo? Jeremias faz as mesmas perguntas que qualquer um de nós faria.
Ao concluir seu livro, o profeta deixa uma petição: Restaura-nos para ti, SENHOR” (v.21).
Vivemos tempos difíceis no Brasil e como família estamos aguardando o que irá acontecer em nossa nação, pois, assim como na época de Jeremias a corrupção tomou conta de todas as esferas da sociedade. Portanto, devemos aprender com o profeta e olhar para o caráter de Deus, confiar em Sua misericórdia e pedir “restaura-nos para ti, SENHOR”. Não podemos permitir que os tempos difíceis sejam como densas nuvens impedindo nossa visão e não nos deixando contemplar a presença de Deus.
Deus está no controle! Ele nos ama e nos restaurará!
Que Deus nos abençoe!

Autor: Leonardo Sahium. Pastor na Igreja Presbiteriana da Gávea no Rio de Janeiro
Fonte: http://ipgavea.org


A obsessão pelo sucesso


Poucas coisas são tão atraentes quanto o sucesso: atingir metas, superar-se, conquistar, ser reconhecido. O homem moderno – e talvez em todas as épocas – sempre tem sido movido pela ambição, que na sua essência, não é necessariamente ruim, mas que pode, facilmente, se transformar em cobiça, ganância e até mesmo obsessão.

Curiosamente, o insucesso pode trazer novas perspectivas e nos livrar de um desastre moral ou espiritual. Henry Ford afirmou que “o insucesso é apenas uma oportunidade para recomeçar com mais inteligência”. A obsessão pelo sucesso pode transformar-nos em seres sem consciência e sem alma, e podemos nos perder no afã de termos reconhecimento ou popularidade.

Um dos alpinistas mais conhecidos do mundo é Ed Viesturs, que escalou todos os 14 picos do Monte Everest. O que o distingue dos demais é o fato de ter alcançado os cumes sem a ajuda de um tanque de oxigênio. Imprudência nunca foi sua característica. Em 1987, quando estava a 100 metros de um cume, ele voltou. Estava sem corda para escalada e ficando escuro. Sua frase tornou-se imortal: “Chegar ao topo é opcional, mas descer é obrigatório. Muitas pessoas se concentram no cume e se esquecem desta verdade”.

Esta febre por estar no ponto mais alto certamente é a causa de muitas escaladas desastrosas. Em 10 de maio de 1996, o Everest tirou a vida de oito veteranos que conseguiram chegar ao tempo apesar de grandes obstáculos e clima hostil. Empolgados pela conquista, se esqueceram dos riscos e quando estavam descendo, uma tempestade os atingiu e todos eles morreram.

Muitas pessoas estão perdendo sua vida pela obsessão de chegar ao topo. A febre pela conquista não se aplica apenas ao montanhismo, mas a todas as áreas da vida. É fácil negociar a consciência, barganhar a fé, desprezar valores, ignorar a paz interior, quando a meta pelo poder, dinheiro e sucesso encontram-se diante do homem. O livro de Provérbios afirma: “O suborno é pedra mágica aos olhos de quem o dá” (Pv 17.8), mas sua consequência é trágica: “Suave é ao homem o pão ganho por fraude, mas depois, a sua boca se encherá de pedrinhas de areia”(Pv 20.17).

Escalar a escada do sucesso nos desnorteia. A obsessão pelo topo pode destruir. Por isto a aposentadoria significa um duro golpe para algumas pessoas, chegando a ser fatal para outras. Não necessariamente o dinheiro, mas o glamour de uma determinada posição, a mídia, o reconhecimento social. Quando chega o tempo em que temos de entregar o posto, ou nos retirarmos, devemos nos dispor a colocar tudo o que temos nas mãos de Deus, reconhecendo que foi ele quem nos deu todas as coisas.


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O que importa não é como começamos ou conquistamos, mas como terminamos.

Autor: Samuel Vieira – Pastor na Primeira Igreja Presbiteriana de Anápolis

Fonte: http://revsamuca.blogspot.com.br/

Perdemos a guerra cultural?

Uma das questões menos compreendidas nas últimas décadas é o impacto do cristianismo na civilização ocidental. Pessoas simplesmente assumem valores que conservam a sociedade coesa, como se sempre tivesse sido assim e como se isso fosse continuar para sempre. Crentes se alienam em exercícios semanais de devoção e excitação espiritual com poucos reflexos morais e nas atividades do dia a dia. Vivem em staccato, de domingo a domingo, ansiando pelos ajuntamentos, sem serem verdadeiramente sal da terra e luz do mundo. Esquecem-se das lições da história, de que a Reforma do Século 16 tirou a civilização ocidental das trevas características da idade média, com a sua mensagem e influência.

Descrentes querem viver a vida moral dissoluta, mas dentro de uma estrutura da sociedade que garanta sua segurança, seus bens, seu progresso profissional, sua voz de reclamar, de reivindicar, de usufruir do avanço da ciência e dos bens de consumo, de desfrutar as benesses do “capitalismo”, sem se aperceberem que tais “direitos” vieram exatamente porque a sociedade ocidental, ou a cultura judaico-cristã influenciou a construção dessa sociedade em que vivemos e na qual estamos acostumados a coexistir. Estão cegos quanto ao obscurantismo que impera nas regiões onde a influência do cristianismo cessou de existir, ou onde ainda não chegou. Não enxergam os exemplos presentes e que a norma, para uma humanidade caída em violência e pecado, é a desvalorização da vida que se observa onde impera o islamismo, ou o hedonismo cruel das ditaduras despóticas que adoram algum “líder supremo”, que assim se autoelege.

Na medida em que valores cristãos vão sendo ridicularizados e descartados essa sociedade vai se fragmentando cada vez mais. Não é surpresa para ninguém que a falta de ênfase primária à questão de segurança tem levado à criminalidade desenfreada (pelos valores cristãos, este seria o propósito principal do governo, segundo Romanos 13.1-7). A ignorância do valor da honestidade (pelos valores cristãos, a cobiça é condenada) permeia não somente os políticos e empresários corruptos, mas o dia a dia das pessoas, que também querem levar vantagens indevidas. O descaso pela instituição do matrimônio (pelos valores cristãos, é a união entre um homem e uma mulher), tem desfigurado a célula mãe da sociedade e desnudado um futuro grotesco onde o comportamento pecaminoso é glorificado e elevado como expressão máxima da liberdade individual, que se coloca acima de qualquer padrão ou princípio. O desrespeito à propriedade (pelos valores cristãos, o mandamento “não furtarás”, continua válido, como os demais que regulam as relações entre os semelhantes), tem levado a protestos ou reivindicações com quebra-quebras, invasões, apropriações e espoliações do que é alheio.

Nesse cenário, algumas vozes, conscientes dos benefícios de uma sociedade firmada em cima de princípios cristãos, têm proclamado que estamos em outra era. Devemos mesmo é esquecer essa sociedade que conhecemos e admitir que perdemos a guerra cultural. O mal venceu. A situação não vai melhorar e estamos irremediavelmente fadados ao ostracismo, à rejeição, ao ridículo e até à extinção como tribo defensora de valores e princípios ultrapassados. Nem todos, mas muitos evangélicos, desde os rincões mais arminianos até os bolsões conhecidos como reformados, têm abraçado esse entendimento.

O que fazer, então? A escritora Leah Farish[1] aponta algumas respostas que têm surgido de autores fora do campo evangélico. O russo-ortodoxo Rod Dreher escreveu um livro intitulado The Benedict Option (A Opção Benedito), que vem causando furor e muita discussão, até em meios reformados. Nesse livro, analisando a sociedade norte-americana, ele aponta a perda inexorável dos limites de civilidade e a crescente hostilidade aos princípios cristãos, de tal maneira que não há mais clima de diálogo, promoção ou aprendizado dos valores cristãos. A solução, para aqueles que ainda presam esses valores, seria se fecharem em comunidades nas quais esses princípios pudessem ainda ser observados. Um outro autor, desta feita católico romano, Alasdair McIntyre, também tem ideias semelhantes e advoga essa clausura de autopreservação para que essa nova idade negra, na qual reinarão bárbaros filosóficos, possa ser atravessada.[2]

As referências da Opção Benedito, são, em parte, a pontuações feitas pelo atual Papa[3] (Benedito, ou Bento XVI). No entanto a lembrança é levada, mais especificamente, ao Benedito (ou Bento) do 6º Século d.C. (480-547 – não confundir com o Benedito do século 16, 1526-1589), quando os cristãos fugiram dos bárbaros e se agruparam no deserto, carregando consigo o germe redentor da civilização que estava em perigo. A referência é que a barbárie demanda o retorno a um isolamento em mosteiros.

Mas será que essa análise está correta? Sem descartar a precisa visão dos problemas filosóficos, éticos e comportamentais que nos assolam, as soluções apresentadas não parecem se harmonizar com a visão de uma compreensão bíblica adequada, resgatada pela teologia da Reforma do Século 16. A Bíblia não ensina o monasticismo como solução à pecaminosidade do mundo (Assim orou Jesus: “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal”, João 17.9), mas o envolvimento firmado na verdade para que sejamos “sal da Terra” (Mateus 5.13), preservando a sociedade na qual vivemos; e “luz do mundo” (Mateus 5.14); luz no meio das trevas, apontando os caminhos e revelando a iniquidade pelo contraste com a verdade proclamada.

Com isso parece concordar Leah Farish, que diz, no artigo já citado, “a Opção Benedito contrasta com as raízes da fé reformada”! As 95 teses de Lutero foram um manifesto explosivo contra a cultura reinante; Calvino lutou para reformar o pedaço de civilização sobre o qual tinha autoridade e sua influência sobre a cultura do mundo ocidental é imensurável. Pode haver alguma validade na sugestão dos crentes verdadeiros se agruparem, em reflexão, para estudarem a Palavra e delinearem estratégias sobre a batalha na qual já estamos envolvidos, mas nunca recorrer à formação de um gueto cristão. Leah Farish relembra que os Judeus, na Polônia, inicialmente ficaram satisfeitos em serem colocados em comunidades reclusas, os guetos. Afinal, iam poder viver em paz, sem perseguição e praticar sua religião. Mas, o extermínio foi o passo subsequente.

Como Paulo, reivindiquemos nossa “cidadania romana”, e proclamemos o que temos de proclamar!



[1] Artigo postado no site da World Reformed Fellowship (WRF): Is The Benedict Option an Option?, disponível em: http://wrfnet.org/articles/2017/03/wrf-member-leah-farish-asks-benedict-option-really-option#.WNJ8rYWcGP8
[3] Por exemplo: “Estamos nos movendo em direção a uma ditadura do relativismo, que não reconhece nada como certo e cujo objetivo supremo é o ego e os desejos de cada um”, citado em: http://www.catholic.org/news/national/story.php?id=34057

Afinal, o Que é Orar?


Orar a Deus deveria ser uma coisa simples. Todavia, poucos assuntos precisam de mais esclarecimentos do que a oração. Há muitos conceitos errados sobre a oração por causa do misticismo e da superstição que acometem o ser humano (não somente os brasileiros), por falta de mais conhecimento bíblico sobre o assunto e por causa de ideias equivocadas que as pessoas têm sobre Deus. Seguem alguns pontos sobre oração que penso que são fundamentais e também relevantes para nós hoje. Estou pressupondo o básico: quem vai orar acredita que Deus existe e que Ele recompensa os que o buscam (Hb 11.1-2 e 6).


1 – Orar é basicamente apresentar a Deus, mediante Jesus Cristo e com a ajuda do Espírito Santo, nossos desejos, necessidades, confissão de pecados, intercessões, agradecimentos. A razão é que somente o Deus Triúno conhece nossos corações, é capaz de atender os pedidos e o único que pode perdoar pecados. Portanto, não há qualquer fundamento bíblico para dirigirmos nossas orações a quaisquer criaturas, vivas ou mortas, mas somente ao Deus Triúno (2 Sm 22:32; 1Rs 8:39; Is 42:8; Sl 65:1-4;145:16,19; Mq 7:18-20; Mt 4:10; Lc 4:8; Jo 14:1; At 1:24; Rm 8:26-27; Jo 14:14 e dezenas de outros textos que falam de nos dirigirmos a Deus).


2 – O Novo Testamento nos ensina que devemos orar a Deus em nome de Jesus Cristo. A razão é que o pecado nos afastou de Deus e não podemos nos aproximar dele por nossos próprios méritos. Jesus Cristo é o único, na terra e no céu, que foi constituído pelo próprio Deus como mediador entre ele e os homens. Não há qualquer base bíblica para se chegar a Deus em oração pela mediação de qualquer outro nome. A Bíblia nos ensina que “não há outro nome dado aos homens” (At 4:12) e que “há somente um mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo” (1Tim 2:5). (Ver ainda Jo 14:6; Ef 3:12; Cl 3:17;Hb 7:25-27;13:15).


3 – Orar em nome de Jesus é nos achegarmos a Deus confiados nos méritos de Jesus Cristo e no perdão de pecados que ele nos conseguiu por meio de sua morte na cruz. É pedir a Deus com base nos merecimentos de Cristo e não nos nossos. É renunciar a toda justiça própria e chegarmos esvaziados de nós mesmos diante de Deus, nada tendo para oferecer em nosso favor a não ser a obra daquele que morreu e ressuscitou por nós. Onde não houver esta disposição e atitude, invocar o nome de Jesus é vão. O nome de Jesus não é um talismã ou uma palavra mágica, ou a senha para desbloquear as bênçãos de Deus. Não funciona nos lábios daqueles que ainda confiam em si mesmos e na sua própria justiça, ainda que repitam este Nome dezenas de vezes em oração (Mt 6:7-8; 7:21; Lc 6:46-49; Jo 14:13,14; At 19:13-16; 1Jo 5:13-15; Hb 4:14-16).


4 – Embora possamos pedir a Deus qualquer coisa que desejarmos, todavia, só deveríamos orar por aquelas que trazem a maior glória de Deus, que promovem o crescimento do Reino de Deus neste mundo e que são para nosso bem, sustento, proteção, alegria, bem como de nosso próximo. Foi isto que Jesus nos ensinou a pedir na oração do “Pai Nosso” (Mt 6:9-13), além de outras coisas afins (Lc 9:11-13). Assim, é tentar a Deus orarmos por coisas ilícitas e pedir coisas que Ele declara, na Bíblia, serem contra a sua vontade (Tg 4:1-3; Mt 20:20-28).


5 – Em nossas orações, deveríamos nos lembrar de orar por outras pessoas. A Bíblia nos ensina a pedir a Deus pelos irmãos em Cristo, pela Igreja de Cristo em todo o mundo, pelos governantes, por nossos familiares e pessoas de todas as classes, inclusive pelos nossos inimigos. Todavia, não há qualquer base bíblica para orarmos pelos que já morreram ou oferecer petições em favor dos mortos (Gn 32:11; 2Sm 7:29; Sl 28:9; Mt 5:44; Jo 17:9 e 20; Ef 6:18; 1Tm 2:1-2; 2Ts 1:11; 3:1; Cl 4:3).


6 – Deus nos encoraja a trazer diante dele as nossas petições. Todavia, ainda que a eficácia de nossas orações dependa exclusivamente dos méritos de Cristo, Deus nos ensina em sua Palavra que há determinadas atitudes nos que oram que fazem com que ele não atenda estas orações, como brigas entre irmãos, mundanismo e egoísmo, tratar mal a esposa, pecados ocultos, incredulidade e dúvidas, falta de perdão a quem nos ofende, hipocrisia, vãs repetições, entre outras coisas (Mt 5:23-24; Tg 4:1-3; 1Pe 3:7; Sl 66:18; Pv 28:13; Is 59:1-2; Tg 1:6-7; Mt 6:14-15; Mt 6:5; Mt 6:7-8). Por outro lado, se nossas orações são respondidas, isto não se deve à nossa santidade, mas à graça de Deus mediante Jesus Cristo, que nos habilita a viver de forma agradável a ele (1Jo 3:21-22), e ao fato de que as orações, por esta mesma graça, foram feitas de acordo com a vontade de Deus (1Jo 5:14).


7 – Deus requer fé da parte dos que oram (Hb 3:12; 11:6; Jer 29:12-14; Tg 1:5-8; 5:15). Esta fé é uma simples confiança de que Deus existe, que ele nos aceitou plenamente em Cristo e que é poderoso para nos dar aquilo que pedimos, ou então, nos dar muito mais do que imaginamos (Hb 4:14-16). Orar com fé é trazer diante de Deus nossas necessidades e descansar nele, confiantes que ele responderá de acordo com o que for melhor para nós (1Jo 5:14-15). Orar com fé não significa determinar a Deus que cumpra nossos pedidos, ou decretar, como se a oração tivesse um poder próprio, que estes pedidos aconteçam. Orações não geram realidades espirituais e nem engravidam a história. É Deus quem ouve as orações e é Ele quem decide se vai respondê-las ou não, e isto de acordo com sua vontade e propósito de sempre nos fazer bem.


Se houvesse mais oração verdadeira a Deus por parte dos que professam conhecê-lo mediante Jesus Cristo, quem sabe veríamos aquele avivamento e reforma espirituais que tanto desejamos para nossa pátria?
“Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra” (2Cron 7:14).


Autor: Dr. Augustus Nicodemus Lopes é pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia, vice-presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil e presidente da Junta de Educação Teológica da IPB.


Fonte: http://tempora-mores.blogspot.com.br

Espinho É Bom e Faz Crescer

“E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte. Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então, ele me disse: a minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte” (2Co 12.7-10).
Às vezes, Deus diz “não”. Isso não significa que ele é mau ou que é um Deus caprichoso que age de acordo com as variações do seu humor. Antes, significa que ele sabe o que é, de fato, bom para a nossa vida e conhece perfeitamente, muito mais do que nós mesmos, quais são as coisas de que realmente precisamos. Por isso, quando Deus diz “não” como resposta às nossas orações, é nosso dever agradecer e até nos alegrarmos, sabendo que isso também é expressão da graça e do cuidado daquele que nos ama com força infinita, daquele que se dispôs a dar o seu próprio Filho por nós.
Paulo aprendeu isso às duras penas. Sendo apóstolo, ele recebeu revelações grandiosas de Deus. Sendo homem, ele correu o risco de se ensoberbecer por causa dessas mesmas revelações. E esse era um perigo real! Note bem: se vemos pessoas agindo com soberba por causa de revelações falsas e tolas que elas próprias inventam, imagine quão orgulhoso poderia se sentir alguém ao receber revelações magníficas e verdadeiras, vindas do próprio Deus! Pois bem... Esse era o caso de Paulo. Por isso, Deus lhe deu uma vacina contra a soberba. E não foi vacina do tipo gotinhas na boca. Foi uma vacina do tipo agulha doída. Deus lhe pôs um espinho na carne!
Não sabemos o que era esse espinho. Tem gente que acha que era um problema nos olhos. Teve um pregador que me disse que era uma mulher de quem Paulo havia se divorciado e que não saía do pé dele (acho que nesse caso não seria um espinho, mas sim o espinheiro completo). Porém, comentaristas mais atentos à realidade de Paulo e ao contexto histórico e textual de 2Coríntios suspeitam que o espinho na carne fosse um homem (talvez uma figura influente dentro da igreja de Corinto) que se opunha ao seu ministério, perturbando sua vida, desrespeitando-o, caluniando-o, estimulando a perseguição contra ele, desencorajando a igreja a ajudá-lo em suas necessidades e deixando-o muito abatido. Isso explicaria por que, no v.10, Paulo associa o espinho na carne a injúrias, necessidades, perseguições e angústias. Eu prefiro essa interpretação do famoso “espinho na carne”, mas sei que não dá pra afirmar isso com certeza absoluta.
Seja como for, o fato é que o pobre apóstolo pediu três vezes a Deus que o livrasse e a resposta foi um sonoro e definitivo “não”. Deus sabia o que era bom para Paulo e queria que ele continuasse a ser esbofeteado por aquele “mensageiro de Satanás” que, em última análise, foi posto por Deus, visando a manter Paulo humilde.
E não somente isso. De acordo com o texto, ao cravar aquele espinho na carne do seu servo, Deus não quis apenas protegê-lo da soberba, mas também ensiná-lo. O espinho não tinha um propósito meramente preventivo, mas também didático. Deus é médico, mas também é professor. O espinho doloroso, além de proteger Paulo do vírus do orgulho, serviria ainda para ensinar ao apóstolo uma lição importante sobre a graça: ela é suficiente para o crente, de maneira que ele não precisa de mais nada.
Assim, entre o livramento e a graça, o cristão precisa mais da segunda. E pra completar o quadro, contrariando o que pensamos, o texto ensina que a graça se revela com mais força quando o livramento NÃO vem. Eis aí uma razão específica por que muitas vezes Deus diz “não”. Ele não nos livra, conforme pedimos, a fim de mostrar a suficiência e o poder da graça, conforme precisamos. Por isso, muitas vezes sofremos injúrias, necessidades, perseguições e angústias sem que Deus nos livre de nada disso. Ele tem algo maior e melhor para nós do que o livramento. E quem aprende isso fica mais forte. Tanto isso é verdade que Paulo disse: “Quando sou fraco (por causa de todas as dores e pesares), então é que sou forte (porque o poder gracioso de Deus me sustenta de forma suficiente)”.
Todos temos de aprender essa preciosa lição. Por isso, recorde-se das súplicas que você fez e que Deus não atendeu. Depois diga a ele: “Obrigado, Senhor, pelo seu ‘não’, pois, por meio dessa resposta, o Senhor me protege das minhas más inclinações e me ensina a depender da sua graça que é suficiente e que se mostra ainda mais poderosa quando estou fraco, jogado no pó”. Você pode fazer essa oração? Trata-se da oração do homem fraco que também é forte. É a oração de quem descobriu a força da graça quando estava caído, sem vigor nenhum, na lama das penúrias. É a oração do crente que aprendeu a ver a vida e seus revezes de uma nova perspectiva — uma perspectiva em que o sofrimento não aparece somente como um espinho que incomoda e machuca, mas também como um remédio que protege, fortalece e faz crescer.
Autor: Marcos Granconato - é pastor titular da Igreja Batista Redenção desde 1997. É formado em Teologia pelo Seminário Bíblico Palavra da Vida (Atibaia, SP) e é mestre em Teologia Histórica pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (São Paulo, SP)

Fonte: http://igrejaredencao.org.br

A importância dos detalhes

Um jovem casal entrou num restaurante fast food e pediu uma refeição para casa. Pagaram a comida, lhes entregaram a embalagem contendo o que haviam pedido e saíram do restaurante. Quando eles saíram o gerente percebeu que a equipe havia cometido um grave erro. Em vez de entregar a embalagem contendo seu jantar, entregaram uma na qual haviam colocado todo dinheiro arrecadado naquele dia.

Desesperados correram atrás, mas o casal já havia saído no carro e desaparecido. Logo depois, para surpresa do gerente o casal retornou dizendo que abriu a embalagem e encontrou o dinheiro dentro e veio devolver. Agradecido o gerente ofereceu-lhes uma recompensa, mas o casal não aceitou dizendo apenas que lhes entregassem o pedido do jantar que haviam feito.

O gerente então teve uma feliz ideia. “que tal se vocês ficassem aqui um minutinho a mais para que chamemos o jornal da cidade para uma fotografia e um artigo, afinal, não é fácil encontrar pessoas assim tão honestas em nossos dias?”...

O casal ao ouvir a sugestão, se virou para sair, e o gerente insistiu querendo saber a razão. O homem respondeu: “Não creio que seja uma boa ideia. Não gostaria que minha mulher me visse com outra”.

Isto mostra quanto as melhores pessoas podem cometer os piores erros. Os havaianos afirmam que “cheiro ruim pode ser encontrado até nos lugares mais doces”. São os detalhes que nos revelam, afinal, quanto menor o espinho do peixe, mais perigoso ele se torna.

Por isto precisamos aprender a nos conhecer, a descobrir os lados patológicos da alma, as fraquezas de caráter e as tendências que podem nos destruir. Geralmente as pessoas fracassam não porque são “muito ruins”, mas porque determinadas sombras são tão agressivas que os aspectos saudáveis são obscurecidos pelas manchas. Somos íntegros nas finanças, mas falhos quanto à sexualidade; somos honestos nos negócios, mas falamos sem avaliar as fontes das informações que transmitimos e a necessidade de falar sobre aquele assunto. Podemos ficar cegos perante nossas falhas e fraquezas. Veja como isto é claro neste antigo texto bíblico que nos fala de um único defeito de um homem que pode lhe ser fatal.

Todos nós cometemos erros. Se alguém pode dominar a sua língua, isso prova que ele tem perfeito domínio sobre si em tudo o mais. Podemos fazer com que um cavalo grande se volte, e vá para onde quisermos por meio de freios em sua boca. E um leme minúsculo faz com que um navio enorme se volte para qualquer lado que o piloto queira que ele vá, mesmo que os ventos sejam fortes” (carta de Tiago 3.2-4).

A verdade é que a língua, um pequeno órgão, pode causar grandes tragédias, assim como uma pequena fagulha pode incendiar uma floresta. Veja como isto é verdade em muitos personagens bíblicos: Sansão era um forte guerreiro, mas se deixou dominar por uma paixão; Davi era um respeitado rei, mas se tornou ímpio por causa da mulher de seu vizinho; Salomão era um sábio homem, mas a vaidade o transformou num homem ridículo; Judas teve o grande privilégio de andar ao lado de Jesus por três anos, mas por sua ambição traiu o amigo por trinta moedas de prata; Geazi, por seu desejo de fama, vendeu a fidelidade a Deus e negociou sua consciência.
Não são os grandes defeitos que geralmente destroem o homem... são os perniciosos detalhes.

Autor: Samuel Vieira – pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Anápolis

Fonte: http://revsamuca.blogspot.com.br/