terça-feira, 2 de setembro de 2014

A desgraça deu as caras outra vez!





Não estou sendo mal-educado nem movido pela emoção. Ela é uma desgraça mesmo. No íntimo, creio que todos pensam assim. Mas alguns rodeiam, atravessam a rua quando a veem. Uma vez fiz uma entrevista com a desgraçada, chamando-a de “a amásia do pecado” (Ultimato, novembro de 1972, p. 4). Estou me referindo à morte, a desgraçada que ontem pela manhã arrancou a vida de Eduardo Campos e de mais seis pessoas.
O linguajar que eu estou usando tem uma influência bíblica. Foi Paulo quem disse que o pecado entrou na história não sozinho, mas na companhia da morte. Por isso, “o vínculo do pecado e da morte passaram à humanidade inteira” (Rm 5.12). Em outra passagem, o apóstolo afirma que a morte é o último inimigo do ser humano e da criação a ser vencido (1Co 15.26). À vista desta notícia antecipada da morte da morte, e tomando carona em Paulo, eu tenho coragem suficiente para zombar da desgraçada e lhe perguntar: “Onde está, ó morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu poder de ferir?” (1Co 15.55).
No domingo passado copiei as seguintes frases sobre a morte, retiradas do último capítulo de É Preciso Saber Envelhecer, de Paul Tournier, conhecido psiquiatra suíço que fundou em 1947 o Grupo Internacional de Medicina da Pessoa, recém-publicado pela Editora Ultimato:
1.
A morte é um mistério impenetrável que escapa a todo debate racional.
2.
A consciência da morte, aquela que subjaz em todo homem, durante toda a sua existência, torna-se ainda mais ameaçadora quando a velhice chega. Se a aposentadoria anuncia a velhice, esta anuncia a morte.
3.
Ninguém poderia negar que o sentido da vida é a morte, porque a vida é uma viagem cujo fim é a morte.
4.
Sim, a vida eterna começa aqui, já. Viver com Deus é participar de sua eternidade; quem tem um pé no infinito pode aceitar sua finitude. Esse passo decisivo, esse nascer para a vida eterna, podemos dar antes da velhice e da proximidade da morte.
5.
A morte é apenas o final da aventura terrena e bem sabemos que nenhuma aventura dura para sempre, e que é necessário que uma aventura morra antes de superar seus limites.

6.
Sim, morrer é encontrar uma vida totalmente nova, isenta de tudo o que converte em peso a nossa existência terrena, até para os mais privilegiados. É a aspiração indelével do coração humano.

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