Um
dos conflitos mais persistentes e agudos no ministério pastoral é aquele
relacionado com o uso da psicologia no aconselhamento e na cura de almas. O
cuidado da alma, ou a “cura d’alma” como era chamado o ministério de
aconselhamento no passado, sempre foi visto como parte integrante do ministério
pastoral.
De
fato, esse trabalho era visto como uma extensão do ministério da Palavra, uma
chance de pregar a Palavra de Deus de forma individualizada, instruindo,
repreendendo, corrigindo e educando o crente de forma personalizada, sensível
ao indivíduo e as circunstâncias e vicissitudes da vida.
Hoje,
o campo do aconselhamento, da psicoterapia e da “cura d’alma” tem sido
transformado em campo de batalha. A psicologia secular a-religiosa, ou
anti-religiosa, procura excluir o pastor do cuidado da psique, até mesmo
sugerindo que a fé é um dos complicadores dos problemas psicológicos. Por outro
lado, alguns pastores erroneamente aceitam a declaração de guerra e rejeitam a
psicologia in toto, afirmando que uma visão bíblica invalida qualquer reflexão
psicológica (anti-psicologia). E ainda alguns outros, pastores, psicólogos e
psiquiatras cristãos acham que uma mistura entre os preceitos bíblicos e o
conhecimento psicológico possibilita uma síntese (integração) que capacita
tanto os pastores quanto os psicólogos para maior êxito. Talvez grande parte da
discussão pudesse ser esclarecida se lembrássemos de alguns pontos
chaves:
(1)
Toda problemática humana nos relacionamentos com o próximo e consigo mesmo tem
como pano de fundo a relação com Deus. Sendo assim, a tentativa de entender e
ajudar o homem nas questões da alma, do coração, sem levar Deus em conta, sem
considerar o que a revelação diz a respeito do homem e de seus problemas é
fadada ao insucesso.
(2)
Isso não significa que as observações e as perspectivas das psicologias não
devam ser aproveitadas. Tal aproveitamento, entretanto, não pode ser uma mera
síntese, uma mistura, ou uma integração, pois correríamos o risco de acabarmos
com uma teologia pastoral psicologizada, como tem ocorrido muito em nosso
tempo, ou uma psicologia pseudo-científica e teologizada.
Existe
uma alternativa que evita estes perigos. Primeiro, reconhecer que só a Palavra
de Deus oferece um retrato acurado do homem, em seu estado original (antes da
queda), em seu estado atual (decaído e atormentado pelo pecado) e nas
possibilidades de seu novo estado como ser redimido e progressivamente
conformado à imagem do varão perfeito, Jesus Cristo (o padrão de uma alma, ou
psique, saudável).
Segundo,
reconhecer que só a Palavra de Deus estabelece os meios e os processos mediante
os quais as pessoas podem ser auxiliadas na aplicação da Redenção nas diversas
áreas de seus relacionamentos com Deus, com o próximo e com elas mesmas.
Terceiro,
reconhecer que as observações e a sabedoria acumuladas mediante os esforços
daqueles que se especializam em observar o comportamento e as dinâmicas da alma
humana podem e devem ser aproveitados para o enriquecimento da prática pastoral
do aconselhamento, desde que devidamente reorientadas pelos pressupostos e
preceitos da Palavra.
Por
fim, lembremos que a única paz completa e permanente que poderemos experimentar
é aquela prometida por Jesus Cristo, “deixo-vos a paz, a minha paz vos dou” (Jo
14.27), a qual só se manifestará plenamente em sua vinda e no seu Reino.
***
Autor:
Augustus Nicodemus é teólogo, escritor, conferencista e escreve no Ó temporas,
Ó mores. Texto originalmente publicado em seu
facebook.
Fonte:
http://www.pulpitocristao.com
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